A reciclagem do plástico, há muito tempo vista como um desafio ambiental e logístico, está passando por uma revolução silenciosa e, ao mesmo tempo, poderosa. A combinação entre tecnologia, educação e propósito tem redesenhado toda a cadeia, transformando resíduos em oportunidades reais de impacto econômico e social. Tenho acompanhado de perto essa evolução, no Brasil e no mundo, e é inspirador observar como a inovação tem se tornado aliada da sustentabilidade. Hoje, aquilo que antes era descartado como problema ambiental começa a ser reconhecido como matéria-prima de valor, e isso muda completamente a lógica da reciclagem: deixa de ser apenas uma ação de descarte responsável e passa a ser um motor de desenvolvimento e inclusão.
Entre as tecnologias que mais me impressionam estão os moinhos e trituradores inteligentes, que aumentam a eficiência da moagem e garantem maior uniformidade na produção; as injetoras e moldadoras automatizadas, que transformam resíduos em novos produtos com precisão; e os softwares de gestão de resíduos, capazes de monitorar coleta, logística e destinação em tempo real. Tudo isso reduz perdas e otimiza recursos – e, quando aliado à inteligência artificial na triagem de materiais, eleva a produtividade a um patamar antes impensável.
A IA, por exemplo, já é usada para identificar tipos de plástico, cores e níveis de pureza, tornando o processo mais ágil e lucrativo. Essa automação tem permitido que cooperativas e indústrias aumentem a rentabilidade e, ao mesmo tempo, reduzam o impacto ambiental. É a tecnologia se tornando ferramenta de inclusão, quando aplicada de forma inteligente e acessível.
No Instituto Soul do Plástico, que idealizei justamente com esse propósito, buscamos integrar essas inovações ao lado humano do processo. A Escola Recicladora é um exemplo disso: um espaço onde os alunos vivenciam o ciclo completo da reciclagem – da coleta de tampinhas plásticas à moagem e moldagem de novos produtos. Ali, o aprendizado vai muito além da técnica. Ensinamos sobre empreendedorismo, criatividade e consciência ambiental, formando jovens que enxergam oportunidades onde antes só existia descarte.
Acredito que o verdadeiro futuro da reciclagem não está apenas na tecnologia, mas em como a usamos para transformar pessoas. Quando educamos e capacitamos comunidades, criamos um ciclo virtuoso entre sustentabilidade, inovação e impacto social. É o que chamo de economia circular humanizada, modelo em que o resíduo ganha valor, o conhecimento gera renda e a inclusão social se torna parte do processo produtivo.
Mais do que ensinar sobre reciclagem, buscamos mostrar que é possível empreender com propósito, encontrando novas formas de gerar valor a partir dos resíduos. O plástico, quando tratado de forma responsável, deixa de ser vilão e passa a ser protagonista de uma nova economia, mais eficiente e consciente.
Com iniciativas assim, o Brasil se aproxima das tendências globais e se posiciona entre os países que enxergam a reciclagem como instrumento de transformação econômica, social e ambiental. Conectando tecnologia, educação e sustentabilidade, podemos – e devemos – construir um futuro onde o conhecimento transforma resíduos em oportunidades e propósito em impacto real.
*Rui Katsuno é empresário e comunicador do setor de plásticos, Presidente do Instituto Soul do Plástico e da MTF Termoformadoras, com mais de 36 anos de experiência. Referência no segmento, ele ganhou destaque nas redes sociais ao desmistificar informações incorretas sobre o uso dos plásticos e promover práticas sustentáveis com linguagem acessível e direta. Rui também lidera projetos sociais em escolas públicas, levando educação, inclusão, cultura e empreendedorismo para jovens e crianças. Sua trajetória mostra que é possível unir indústria, responsabilidade social e educação em prol de um futuro mais informado e sustentável.